sexta-feira, 31 de outubro de 2008

«Este Ano É Que É»


Há vários anos a esta parte que me cruzo esporadicamente em Faro com um colega de trabalho, moço trabalhador – apesar de alentejano, cujo maior defeito, digo eu, é ser um “lagarto” inveterado…
Ora durante aqueles famosos 18 anos em que o Clube da 2ª Circular estava ladrilhado com sucessivas ausências de títulos, para além dos seus hilariantes mosaicos exteriores adequados ao verdadeiro estado de espírito daquela população, ou seja, gente que se mantém em permanente situação de aperto, de quem está à rasquinha (tal como o cromo Paulo Bento indicia) tem que ter a sua casa de banho logo ali à mão, dizia eu, como um verdadeiro benfiquista que se preze, fustigava o meu amigo sportinguista com um sonoro “Para o ano é que é!», à laia de cumprimento, quando o via, já nem esperando pela ultrapassagem do estigma natalício que gelava o sangue nessa época a quase todos os “lagartos” nacionais….

Ora como os jogos têm duas partes, não tardou muito a que o feitiço se virasse contra o feiticeiro e, assim que o Sporting da 2ª Circular desse por desbloqueado o enguiço, este meu colega se vingasse da mesma moeda, aproveitando o posterior e intrigante jejum de títulos do Glorioso, época de má memória que nenhum Apito Viciado apaga da história: “não te chateies, ó amigo Zé, que pró ano é que é!». Toma e embrulha…

Caramba, não fosse o estofo de campeão que nasce com todo o benfiquista, aqui vos confesso que aquele cumprimento provocava-me bastas vezes um sorriso amarelo, parecido com o voo da águia Vitória quando esta aborta a sua imperial descida pela Catedral, derrotada somente pelos milhares de confetis comemorativos lançados pela nação benfiquista. Quer dizer, ela perde, mas somente em estado de evidente inferioridade numérica… Uma contra milhares, pudera… Ora por que raios me assaltaram neste momento as histórias com frutas e café com leite…?

Enfim, falando de coisas realmente importantes (qual FêCêPê qual quê! Um verdadeiro derby há-de ser sempre um Benfica-Sporting), o amigo Zé depressa reagia e lançava-lhe um igualmente desafiante «Este ano é que é!», e, dessa forma, depressa comungávamos do verdadeiro espírito desportivo de quem sabe que não podemos ser todos do Benfica ou do Sporting, claro, pois doutro modo, contra quem haveríamos de ganhar? Ah sim, pois ainda sou do tempo em que os «bonecos» (ou “matraquilhos”), eram sempre destas duas equipas! Bem: sempre, não, que ainda me lembro da tasca do “MárJorge”, da Fuzeta, ter uns bonecos do Benfica e outros azuis… sim, do Belenenses, que queriam?

E é assim que eu e o meu colega leão ainda hoje nos cumprimentamos, não com um “Bom Dia” ou “Boa Tarde”, mas sim com o profético «Este ano é que é!», desejando-nos mutuamente a sorte dos audazes, pensando eu cá com os meus botões: este gajo, para ser tão porreiro, deve ser um “melancia”, quer dizer, verde por fora mas vermelho por dentro… E viva o Benfica! Este ano é que é!

domingo, 26 de outubro de 2008

Ir ao estádio.

O futebol é bonito no estádio. Aquelas cores, aqueles insultos, nada como estar lá. Agora, como ir lá com os preços exorbitantes que os ganaciosos da bola pedem? O inenarrável Madaíl ainda fez um esforço no último Portugal-Albânia, em Braga, mendigando o apoio que a Selecção tanto precisava. De que vale mendigar se os sinais exteriores de riqueza e idiotice são evidentes? Os bilhetes rondavam, para quem não é sócio da Selecção os 15/20 euros. Porquê? Pagar assim para sair de lá com vontade de esmurrar o pessoal todo? Eu até era gajo para ter ido. Mas com o puto era uma boa maquia que vai fazendo falta em tempos de crise.
No passado Domingo, por acaso, estava eu em Chaves quando me lembrei que o Braga lá jogava para a Taça. Fui ver os preços, por curiosidade: o mais barato para não sócios custava 15 euros! Ide roubar para a estrada, como se diz por aqui.
Não será melhor vender bilhetes mais baratos e correr o risco de ter mais gente a assitir aos jogos? Não poderá isso ser factor de galvanização para os jogadores, que nos proporcionariam partidas menos soporíferas?
Ou o Madaíl tem medo de não ter dinheiro para assegurar o salário? Esta última é para o popularucho.

Empatias do dia 25 de Outubro

Hoje, sábado dia 25, é dia de manifestar as minhas recentes simpatias escondidas. Aquelas estranhas empatias que não sabemos bem explicar porquê, ou que até sabemos mas não queremos dizer.
A primeira é o Leixões, essa grande equipa de Matosinhos. Equipa do povo. Sempre gostei de Matosinhos. Por razões óbvias faz-me lembrar Olhão. Terras com os seus defeitos, pois claro, mas terras de gente genuína. Olhão era a cidade inimiga de Faro, a minha terra, mas lembro-me de Olhão como cidade do fruto proibido desde a minha infância. Foi em Olhão que dei o meu primeiro beijo na boca. E foi em Olhão que passei grandes tempos da minha vida, daqueles a dar para o selvagem em que nos sentimos nós próprios. Ora como Matosinhos me faz lembrar Olhão, fiquei feliz por, no dia de hoje, o Leixões ter ascendido ao primeiro lugar no nosso campeonato ao derrotar o FCP no Dragõ. O que só revela que, apesar de eu ser benfiquista, não guardo rancor a esta equipa que está à frente da minha.
A minha outra simpatia precisa de uma história antes: andava eu na Universidade e tinha uma colega muito prendada, quer em termos racionais quer em termos estéticos. Boa rapariga que tinha, no entanto, o senão de desconfiar das verdadeiras intenções masculinos. Ou, pelo menos, assim aparentava, pois desdenhava da nossa companhia e não se lhe conhecia interesse por macho. Jantámos fora por três vezes e, apesar dos meus esforços, nunca a consegui trazer ao meu covil para passar a noite, fosse qual fosse a desculpa. A meio da noite a rapariga deixava de me ligar importância, arrefecia e arrefecia-me e... nada. Até eu perdia a vontade. Mas quando acordava na manhã seguinte voltava-me o seu rosto frio e intelectual à memória, mais as suas largas coxas e peito decidido, e lá se reiniciava aquele desejo inflamado que não me dava sossego nem vontade para mais nada. Chegava a perder o apetite do almoço a pensar na miúda!
Até que engendrei uma táctica que li num romance barato: fiquei doente. Fiz com que constasse que estava acamado, umas febres indefinidas, umas dores gástricas, sabe-se lá o que podia ser com a vida que levava, a alimentação não era a melhor, o quarto tinha alguma humidade, os artistas são muito permeáveis à doença, é mais do que sabido, quantos não morreram já com tuberculose e outras doenças trágicas? E não é que resultou! A x (claro que não poderia revelar aqui o nome) apareceu lá por casa, encharcou-me em comprimidos e em cházinhos que me amoleceram, armou-se em enfermeira entristecida que concede os últimos desejos ao moribundo que vela! Foram bons tempos, mas acabou por me trocar pelo Carlinhos que foi atropelado por um camião e a quem amputaram uma perna.
Esta história serve para explicar a minha simpatia pelo Vukcevic. Ora eu acho que o Vukcevic se armou em doente para chamar à atenção do Paulo Bento. O Paulo Bento deve ser um homem difícil já que está sempre com cara de quem sofre de prisão de ventre. Todavia, este género de homens aparentemente insensíveis comovem-se perante a doença, pelo que penso que o Vukcevic arranjou este expediente para conseguir lugar na equipa. Só que, seja por falta de jeito, seja por problemas de língua, não conseguiu disfarçar até ao fim e o Paulo Bento irritou-se. Ou então virou-se para o Izmailov que com aquele menear de cabeça faz lembrar alguém saído do "voando sobre um ninho de cucos".