terça-feira, 11 de novembro de 2008

Uma Coisa Sem Importância?


Lembro-me de um bom treinador de futebol, Paulo Autuori, que teve uma fugaz e não muito gloriosa passagem pelo Benfica, ter dito, certa vez, que «o futebol é a coisa mais importante das coisas sem importância».


Esta frase, se durante muito tempo serviu para me ajudar a superar certos desapontamentos desportivos, não deixava de provocar em mim sentimentos contraditórios, difíceis de conciliar… O quê? O desporto-rei empurrado para um canto de significâncias sem importância? Impossível! Não pode! Mas, de facto, se comparado com toda uma multiplicidade de vivências diárias, isto é, comparado com todas as dificuldades e constrangimentos que qualquer ser humano, seja mais ou menos privilegiado, tem, a fria racionalidade assim parecia dar razão à estratificação dessas tais coisas, numa hierarquização de importâncias, como se estas se agrupassem em diferentes “campeonatos”, umas com direito a jogarem na primeira divisão, outras na liga secundária, e assim por diante.


No entanto, por esse prisma, de que forma então poderíamos compreender e catalogar todas as emoções, alegrias, paixões, encantos e desencantos que todos os adeptos do futebol têm no seu código genético? Não terão lugar estas vivências direito a ocuparem lugares da maior importância no campeonato daquilo que é a nossa vida? Penso que sim. Da mesma forma que a realidade é múltipla, também nós o somos. E é essa mesma realidade, pluridimensional, que me faz viver intensamente cada momento da minha vida, seja numa segunda-feira de trabalho como numa noite europeia, e querer sempre acreditar numa realidade plena, sedimentada com razão e paixão!


Aliás, de que outro modo é que eu poderia estar a ver o último jogo para a Taça de Portugal do Benfica vs Desportivo das Aves, olhar para o marcador, e constatar com algum aperto no coração que o placard ainda anunciava 0-0 aos… 24 segundos de jogo? Se até já tinha havido uma jogada de ataque que quase dava golo aos 15 segundos, para o Benfica? Ou, outrossim, numa inacreditável noite em que o SLB levou 7 secas do Celta de Vigo e eu, a 20 minutos do fim, com o Benfica a perder 4 ou 5 a zero, ainda pensava que podíamos dar a volta ao marcador?


É essa mesma paixão, essa tão grande importância que alegra e anima a vida de milhões de benfiquistas no mundo inteiro que me levou hoje a perceber, finalmente, a verdadeira contextualização da afirmação do Paulo Auturori. Cá para mim, ele disse aquela baboseira antes de ter passado pelo Benfica!!!

4 comentários:

Fernando Évora disse...

Claro que tens razão, amigo Zé! Ou terias, pois no fundo o Paulo Autuori não percebeu que a sua frase estava errada ao passar pelo Benfica, e por isso mesmo é que a sua passagem foi fugaz e não deixou saudades. Foi uma daquelas coisas sem importância...

Anónimo disse...

Xeque-Mate

Ser benfiquista é uma doença como outra qualquer.
Não tem cura

Mesmo com a águia depenada e quase a cair no caldeirão os benfiquistas sê-lo-ao.

São uns masoquistas incorregíveis

João de Sousa disse...

é o aimar que falha o drible e nós a vermos aí uma excepcional habilidade, pois até ajudou ao golo. ser benfiquista é aimar o benfica

Unknown disse...

Sobre essa história de Vigo, recordo-me de um episódio engraçado, decorrida quase no termos de uma longa viagem pela Europa com um grupo de amigos há coisa de oito anos...

Cerca das duas ou três da manhã, atravessávamos a cidade rumo a Portugal e com excepção deste condutor toda a gente dormia profundamente na carrinha. Para meu espanto, começo a ouvir uma gritaria monstruosa no banco de trás...

Simplesmente, um "doente" do Sporting, acordou dos sonhos e resolveu festejar ruidosamente a derrota copiosa dos adversários da 2.ª circular alguns tempos antes, exactamente quando estámos a passar junto ao Estádio de Riazor. Coisas da vida!