sábado, 17 de janeiro de 2009

A propósito de Diakité

O jogador Diakité, do Belenenses, casou-se. Mesmo assim foi convocado para o jogo com o Benfica. pretendia o tereinador que o jogador trabalhasse no dia do seu casamento. E lamentou o mundo como está: "é que agora são as mulheres que mandam..."
É verdade que Jaime Pacheco deu um tom de piadinha à sua afirmação. Mas, apesar de tudo, pretendia que um trabalhador não faltasse ao trabalho no dia do seu casamento. Porque um jogador de futebol não deixa de ser um trabalhador e, por enquanto, ainda pode gozar o dia do seu casamento. É não só de lei, é uma questão de cultura democrática, de respeito pelo próximo. Desta vez, Jaime Pacheco esqueceu-se deste pormenor. E amanhã, quem se esquecerá dele? Talvez que se este acontecimento tivesse acontecido há uns meses atrás fosse devidamente enquadrado no novo código de trabalho, a propósito da agilização "Desde que devidamente justificado, um trabalhador pode ser convocado pela entidade patronal no dia do seu casamento".
E depois há a questão de agora "as mulheres é que mandam". Provavelmente mandam mal, pois os dados estatísticos apontam para um aumento da violência doméstica ... sobre as mulheres.
Enfim... cultura pachequiana.

1 comentário:

O Amigo Zé disse...

Espero que o meu bom Amigo JSousa não me leve a mal por transcrever aqui o comentário que me fez o favor de me enviar por email pessoal, em resposta a "O Mais Valioso do Planete". Por considerá-lo muito interessante e assaz pertinente, não queria ficar com ele só para mim:

«Li. O de Diakité pareceu-me estranho, também o teu, da Palestina.
O futebol deixou de ser um desporto. As qualidades que tanto se fomentaram e, embora em declínio, se fomentam, do atleta que se supera, exímio e puro, ainda se encontram em muitos desportos, da natação à ginástica, do voleibol ao hoquei. Exaltam valores morais, sentido do colectivo e servem de exemplo de preserverança e de honradez. No futebol, emigrantes alcoolizados cumprem horários e e escamoteiam limitações técnicas por meio de rasteiras rascas, quedas aparatosas e escarretas avondo. O Olhanense é bem um triste exemplo dessas trupes de operários desenrascados, a saltarem na barreira e a desviarem a cara perante a velocidade do adversário, lentos, perdulários, às vezes tropegos, a acusarem álcool (aquele que fica no sistema nervoso para a semana seguinte e que a nossa ignorância teima em não contabilizar). Nada sei de Diakité, nem quero saber. Mas um atleta que casa no dia da prova soa a operário. O Belenenses não será muito melhor que o Olhanense. Bem sei que ninguém vê estes jogos: dizem que vêm, enquanto tremoceiam e engolem cerveja. Abençoadas repetições, que lhes permitem asseverar que viram o jogo e até opinar sobre o lance, o árbito e o treinador. Espectadores lamentáveis, a tomar Listerine e a sentir-se muito honrados por causa do Ronaldo, como se o tivessem em casa, e a pugnar pela vitória do clube que tomaram como pretexto para entrar no mundo dos homens, mesmo que os golos sejam vergonhosos e as surripiadelas à lei do jogo sejam absolutamente descaradas. Pior ainda quando a desproporção da qualidade das equipas é confrangedora. Era melhor quando se cantava o fado e se trazia a prata da casa ao campo raso nas manhãs de Domingo, em jogos aguerridos e muito suados. Era melhor quando não haviam câmaras nem repetições e só via a jogada quem estava com fina atenção. Agora não nos livramos da praga horrível de grunhidos indignados com os erros da arbitragem, à pala de um abuso da tecnologia, ostensivo e despudorado. O futebol, se quiser voltar a ser um desporto como os outros, tem de renúnciar ao álcool, à boçalidade, ao oportunismo e privilegiar o jogo corrido, a inteligência sobre a sabujaria, a juventude sobre o operariado experiente. Os clubes são apenas empresas. Pôr lá o coração diz tudo de cada qual.

Um abraço,
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